sexta-feira, 11 de junho de 2010

Alerta: Infância deprimida



Um alerta aos pais: filhos que apresentam agressividade exagerada e desatenção na escola podem estar com depressão, mal que atinge 5% das crianças e adolescentes do mundo. Há relatos até de tentativas de suicídio aos 5 anos

Desatenção na escola, isolamento, agressividade, distanciamento dos amigos e comportamentos condenáveis, como pequenos furtos de objetos. Muitos desses sintomas, facilmente confundidos como distúrbios característicos da entrada na adolescência, podem ser indícios de depressão infantil, mal que acomete cerca de 5% das crianças e adolescentes no mundo, de acordo com a Academia Americana de Psiquiatria Infanto-Juvenil.

Os que estão sob algum tipo de estresse ou com transtornos de conduta e ansiedade são os que têm mais tendência a desenvolver o problema. Para a psicóloga aposentada Lúcia Helena Siqueira Barbosa, especialista em tratamento de crianças e jovens que trabalhou por 25 anos no Centro de Saúde Escola Butantã do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo (USP), não há uma causa específica que leve ao diagnóstico de depressão infantil, mas um conjunto de experiências da criança.

“Não acredito na teoria de um trauma isolado, mas o problema também não acontece do nada. Sempre há diversas implicações e, por isso, são várias as responsabilidades sociais e familiares com relação às crianças”, afirma.

Lúcia relata o caso de um paciente de 9 anos que só foi levado pela mãe para se tratar após ser pego na rua furtando.

“Era um garoto doce, que se dava bem com os amigos, mas a vida inteira teve perdas, o que desencadeou a depressão.

Ele perdeu o irmão gêmeo no nascimento. Também teve a ausência do pai, que saiu de casa. Depois, com 8 anos, uma irmã foi raptada.

Logo após esse episódio, ele começou a furtar”, diz Lúcia, que acrescenta: “Foram necessários 3 anos de terapia.”

Estudo financiado pelo Instituto de Saúde Mental dos Estados Unidos e publicado no “Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry” em junho do ano passado indica que a terapia comportamental é tão eficaz quanto o uso de medicamentos no tratamento da depressão infanto-juvenil.

O resultado, porém, é muito mais eficaz quando os dois tratamentos estão associados.

A pesquisa foi realizada com 439 crianças e adolescentes com idades entre 12 e 17 anos, submetidos à terapia cognitivo-comportamental, a antidepressivos e à associação de ambos. Até a 18ª semana as taxas de ausência de sintomas foram de 56% no tratamento combinado, contra 37% com remédios e 27% na terapia. Após 36 semanas a taxa de eficiência dos três tipos de tratamento foi em torno de 60%.

A depressão infantil pode ser despertada também no convívio com outras crianças na escola, ainda mais quando envolve a prática de bullying, agressão física e psicológica de forma persistente entre estudantes que, em casos muito graves, pode levar ao suicídio da vítima.

“A depressão está relacionada ao ambiente e à conformação biológica da pessoa. Por isso, situações de estresse muito frequentes, como as ocasionadas pelo bullying, podem colaborar para a aparição de sintomas depressivos que, se não tratados a tempo, podem provocar quadros mais graves de depressão”, destaca Wagner Bandeira Andriola, professor de psicologia aplicada à educação da Universidade Federal do Ceará.

Em março passado, o suicídio da estudante irlandesa Phoebe Prince, de 15 anos, chocou o mundo.

Ela estava morando no estado norte-americano de Massachusetts e começou a estudar na South Hadley High School, onde teve um breve namoro com um aluno mais velho. As outras meninas da escola, então, começaram a persegui-la.

Após quase 1 ano de humilhações, Phoebe voltava para casa quando algumas adolescentes passaram por ela de carro e a xingaram.

Chegando em casa, a garota se enforcou. Nove alunos da escola, entre meninos e meninas de 16 a 18 anos, foram acusados formalmente de diferentes crimes cometidos contra a jovem.

“Os pais devem ficar atentos e, ao perceberem algum sinal de agressão física ou psicológica intencional contra os filhos, devem agir imediatamente pois a prática é muito destrutiva para o bem-estar da criança e pode afetar significativamente o desempenho escolar”, diz o educador norte-americano Allan Beane, que leciona na Murray State University, no estado de Kentucky (EUA), e é autor do livro “Proteja seu filho do bullying”.

A maior incidência de bullying entre os estudantes brasileiros está na faixa de 11 a 15 anos. É o que mostra pesquisa inédita no Brasil do Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor da Fundação Instituto de Administração para a organização não-governamental Plan Brasil.

O levantamento, feito com 5 mil alunos de 25 escolas públicas e particulares das cinco regiões brasileiras, revelou que em 21% dos casos as agressões são feitas dentro da própria sala de aula.

“A pesquisa mostra o despreparo dos professores para lidar e até identificar casos de bullying”, acrescenta Cléo Fante, coordenadora da pesquisa.


Fonte: http://folha.arcauniversal.com.br

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